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Clipping Jornalístico Coronavírus

Publicado em 23/03/2020 no Amazonas Atual
Coronavírus - Covid-19 Positiva

Pesquisa mostra população dividida sobre combate ao coronavírus

CORONAVIRUS PESQUISA POPULACAO-DIVIDA

Por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, da Folhapress

SÃO PAULO-SP – Umaleitura superficial da pesquisa do Datafolha divulgada nesta segunda-feira, 23,pode sugerir poucos reflexos políticos da epidemia do novo coronavírus sobre aimagem de Jair Bolsonaro (sem partido).

A opinião públicaestá dividida em três blocos na avaliação que faz do presidente no combate àcrise, o que remete aos patamares de popularidade do governo verificados peloinstituto ao longo do ano passado e pode camuflar pontos importantesrevelados agora.

Em primeiro lugar,as metodologias dos levantamentos são diferentes, tanto em relação ao universoestudado quanto à abordagem dos entrevistados, o que impossibilita comparações.

Na pesquisa divulgadanesta segunda, por exemplo, para evitar o contato social entre pesquisadores erespondentes, o Datafolha ouviu por telefone uma amostra representativa depossuidores de aparelhos de celular. Maiores informações sobre a metodologia eseus limites estão no texto ao lado.

Noentanto, análise dos cruzamentos dos resultados com as variáveis socioeconômicastraz tendências, que se confirmadas em tomadas futuras, podem indicar mudançasno perfil dos segmentos tradicionais de apoio ao presidente da República.

Os maisricos e escolarizados – estratos que majoritariamente elegeram Bolsonaro e queforam os primeiros atingidos pela atual pandemia – são os mais críticos ao seudesempenho no enfrentamento do problema.

Entre osque têm nível superior, a reprovação é maior em 19 pontos percentuais seconfrontada com a dos que estudaram até o fundamental. Entre os de maior renda,ela é superior em 18 pontos à verificada entre os mais pobres, alcançando 51%do estrato.

Essessubconjuntos são os que mais percebem inadequação do presidente no tratamentoda questão e são de longe os que mais condenam suas atitudes, como a decumprimentar com as mãos manifestantes que estavam na frente do Palácio doPlanalto no último dia 15 e a de classificar a repercussão da epidemia comohisteria.

Um estremecimentoentre Bolsonaro e a elite econômica do país já havia sido identificadologo após o episódio em que os presidentes brasileiro e o francês, EmmanuelMacron, se desentenderam publicamente por conta de incêndios na Amazônia.Depois, com a aprovação da reforma da Previdência, Bolsonaro conseguiu reaverboa parte desse apoio.

Isso podeacontecer novamente – segundo os resultados, a grande maioria desses estratosnão verbaliza arrependimento pela escolha da última eleição. Parte da tendênciapoderia ser anulada, dependendo dos rumos da epidemia no Brasil.

Pelosdados do Datafolha, Bolsonaro tem, pelo menos por enquanto, exemplos a seguir.A maioria da população aprova o desempenho dos governadores de seus respectivosestados e principalmente do Ministério da Saúde no andamento da crise. Osíndices de avaliação positiva nesses casos, superam a do presidente em até 20pontos percentuais no total da amostra.

Apopularidade dos governadores e a do Ministério da Saúde entre os maisescolarizados, por exemplo, é maior do que a de Bolsonaro em 27 pontos percentuais,diferença superior em até 17 pontos à verificada entre os menos escolarizados.

Fica fácil entender a entrevista coletiva em que o presidente, usando máscara, procurou, ao lado de seus ministros, especialmente o da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, capitalizar efeitos políticos sobre a atuação de seu ministério – a correlação entre as avaliações do desempenho da pasta da Saúde com a do presidente é alta. Sobre a, até aqui, resiliência de Bolsonaro nos estratos mais carentes, a pesquisa dá algumas pistas.

São ossegmentos com maior dificuldade de acesso à informação – o índice dos que sejulgam bem informados sobre a epidemia entre os menos escolarizados é inferiorem 17 pontos percentuais ao que se verifica entre os de nível superior. Quandose focaliza a renda, a vantagem no grau de informação é de 16 pontospercentuais em prol dos mais ricos.

Além disso, possíveisruídos na comunicação com esses conjuntos parecem passar a mensagem de que háexcesso de preocupação dos brasileiros com a questão, o que acaba por fazer queesses estratos subestimem efeitos da epidemia.

A taxa dosque acham que haverá muitas mortes por conta do coronavírus entre os que têmnível fundamental de escolaridade é inferior em 17 pontos percentuais àsverificadas entre os mais escolarizados. O pessimismo entre os mais ricos é 15pontos maior do que entre os mais pobres.

Comportamentosemelhante é observado entre os jovens. Na faixa etária de 16 a 24 anos, ainternet e as redes sociais ficam muito acima da média como fonte deinformação, e o estrato é o que menos se considera bem informado sobre o tema,assim como é o que menos demonstra medo da doença.

Aconstatação de que os mais velhos compõem o grupo mais vulnerável para asformas graves da infecção vem transmitindo talvez a ideia de maior imunidade aosegmento que mais se expõe socialmente.

A eficáciadas ações contra a pandemia no Brasil e de seus reflexos sobre a economia e apolítica exige plano de comunicação dirigida a segmentos estratégicos dapopulação.A maior parte dos brasileiros tem renda familiarmensal de até dois salários mínimos e precisa de recursos e informação adequadapara se proteger. E os 19% mais jovens devem ser devidamente comunicados sobreo risco que a exposição do estrato, como vetor, gera para os 21% mais velhos.